Um belo dia ao retornar para casa dona Lucy, ao passar na frente do condomínio, avistou algo diferente esgueirando-se entre os carros.
Não era de se estranhar por ser ali local de encontro de gatos vadios contumazes quer para flertar com as gatas que estivessem no cio ou a fim de esperar moradores que ao entardecer tinham o hábito de colocar ração e água para os felinos de rua.
Mas aquele movimento era diferente dos que costumava ver. Ocupou-se em prover a ração em potes de sorvete estrategicamente distanciados uns dos outros a fim de evitar conflitos na hora da comilança. Colocava ração e olhava de vez em quando debaixo do carro onde percebeu o movimento furtivo. Enfim, depois de algum tempo descobriu do que se tratava de um filhote de gato ainda meio arredio e desconfiado, decerto por temer os gatos mais velhos.
Depois de algum tempo, talvez movido pela fome o gatinho resolveu aproximar-se e servir-se da ração, voltando para seu abrigo embaixo do carro.
Trata-se de um lindo gatinho de olhos azuis e pelagem branca salpicada de amarelo. Uma fofura de animal.
Dias se passaram e o gatinho perdeu o receio e já se alimentava com os demais gatos. Sempre que via os moradores mantenedores dos gatos de rua chegar corria com os demais a espera de ração.
Dona Lucy tinha em casa um gato já idoso que por viver confinado dentro de seu apartamento desenvolveu obesidade e consequentemente a falta de atividades físicas, surgiram problemas de saúde que não lhe permitiam mexer-se com desenvoltura limitando-o a permanecer a maior parte do tempo resfatelado em sua almofada ao lado do sofá de onde saia apenas para alimentar-se, beber água e fazer suas necessidades na caixa de areia estrategicamente colocada em um canto da área de serviço.
Infelizmente o velho gato morreu. Triste, dona Lucy providenciou junto a petshop uma destinação para o corpo do animal tão querido que a deixou sozinha. Resolveu então adotar outro gato que lhe fizesse companhia pois morava só. Lembrou-se do filhote que perambulava com os
demais gatos na frente do condomínio. Resolveu que o pegaria e traria para casa.
Naquela tarde colocou a ração nos potes e enquanto os gatos comiam ela apeoximou-se e começou a acariciar um ou outro. Como já estavam acostumados com ela não se incomodaram. Comiam e recebiam afagos. Assim foi que ela conseguiu pegar o gatinho e o levou para seu apartamento. Lá chegando descobriu que na verdade era uma fêmea e não um macho como imaginava.
Recebendo afagos e alimentos a gatinha foi se acostumando ao lar. Não precisava mais dividir ração com outros gatos na rua. Sempre que queria a ração e a água estavam a sua disposição.
Algum tempo depois a gatinha Zezé desconfiou de algum movimento na cozinha. Levantou-se sorrateira e foi até a porta. Ao chegar ainda avistou um rato que degustava de sua ração. Percebendo a gata o rato fugiu. Zezé chegou perto do pote de ração, comeu um pouco e voltou para sua almofada.
Nos dias seguintes, sempre que dona Lucy saia e o apartamento ficava em silêncio lá estava o rato servindo-se da ração. Zezé já nem se importava com o roedor. Havia ração e água suficiente então para que perseguir o rato?
Além do mais o roedor lhe fazia companhia enquanto sua dona estava fora de casa.
Enquanto o rato comia calmamente Zezé ronronrava sossegada no conforto da almofada.
*Valdir Barreto Ramos é escritor amador, poeta, contista e cronista. Nasceu em Santo Antônio de Jesus, BA. Tem publicados os livros: Paixão em Poesia (2009); Vir o Destino (2011); Tímidos Versos (2013); Meu Filho Autista (2014); Predestinados (2016);