Nessa quarta-feira dia 17 um amigo me lembrou pelas redes sociais os dois anos da morte do ator Kleber Lima, um dos mais talentosos artistas de Parnaíba e do Piauí, que por mais de vinte anos encarnou com uma técnica invejável e imponência, o personagem Jesus Cristo por ocasião da Semana Santa.
Kleber Lima morreu vitimado pelo coronavírus no pico da pandemia. Sua morte encerrou um ciclo das artes cênicas e talvez por muitos e muitos anos não deve aparecer um substituto. Ator, jornalista, produtor cultural e de televisão, ligado aos movimentos sociais e à diocese de Parnaíba, tinha a calma e a paciência típica dos monges tibetanos.
Naquela época houve quem num gesto de coleguismo, amizade, respeito e reconhecimento de longos anos, sugerisse que a municipalidade de Parnaíba o homenageasse dando seu nome a um parque temático que estava prestes a ser inaugurado próximo à igreja de São Sebastião e no espaço onde por vários anos Kleber encantou milhares de pessoas na Semana Santa com sua performance da paixão e morte de Jesus Cristo. Nem que fosse com uma placa pequena, do tamanho de uma caixa de fósforo.
Essa sugestão caiu no vazio. Se preferiu dar ao espaço o nome de Terra Santa. O nome do ator e diretor de teatro estava assim relegado a ficar coberto pela poeira do esquecimento, como acontece com muita gente que deu à cidade de Parnaíba o relevo de que ela precisa.
Parnaíba é uma terra de gente esquisita. É uma cidade esquisita até com ela mesmo. Parnaíba é uma cidade que não gosta, não faz questão de ser notada por algumas pessoas, principalmente quando tem alguma atitude, um feito, uma realização por aquelas mais humildes. Parnaíba gosta do silêncio para ir passando no tempo.
Às vezes até que suporta viver da fama instantânea de algum de seus filhos. E toma essa fama particular, individual, como se fosse uma situação de hereditariedade coletiva. Depois volta para o mesmo lugar.
As coisas e as pessoas se repetem. As mesmas pessoas e seus complexos de superioridade. Por outro lado Parnaíba gosta de reverenciar pessoas ditas ilustradas, de boa família. Nada muda. Existe entre os seus ditos principais aquela ilusão de que somos melhores, pioneiros nisso, naquilo e em tudo.
Os mesmos políticos, os mesmos empresários, as mesmas pessoas ocupando cargos públicos pela vida inteira. Como se fossem donas de uma parte do mundo.
Parnaíba é tão assim, que outro dia ficou sabendo que o Rei Pelé esteve há mais de quarenta anos na praia da Pedra do Sal para ser garoto propaganda de uma campanha publicitária de turismo, a convite do à época governador Alberto Silva. E só agora é que se ficou sabendo. Mas aí o rei já estava morto.
* Fadul Al Ahbe é articulista.