* Causo por José Luiz de Carvalho
O deputado federal Paulo Silva, brilhante parlamentar constituinte na Assembleia Nacional de 1987, nos idos da década de 1990 tinha comprado um terreno na chapada, cuja entrada era lá pela BR-343 e a estrada dos Crioulos, perto da granja do Chagas Fontenele.
Naquela época ele morava na casa que foi da ex-prefeita e maior líder política daquela cidade, Zezita Cruz Sampaio, esposa do almirante Gervásio Sampaio, destacado militar e político no Piauí, pai do polêmico deputado estadual Venceslau de Sampaio.
Na casa que ele havia comprado do Zé Alves, fiel escudeiro de Zezita na fase final da sua vida e para quem deixou em testamento, boa parte de sua fortuna depois de uma reforma conseguiu revitalizar a mansão inclusive com móveis antigos de alto padrão de qualidade e logo após decidiu também preservar as matas e os animais silvestres do Brejo do Riacho Buriti.
Seria ali um raro santuário urbano no Piauí. Dos 253 hectares usou apenas dez para fazer a casa da fazenda lá no meio do terreno e plantar capim para os cavalos e vacas de leite.
Após Observar que animais raríssimos vinham beber água no brejo correndo o risco de serem capturados ou até mortos, decidiu fazer uma aguada na chapada que seria utilizada para que bebessem sem ter que ir para o brejo. Assim preservou todos os olhos d’água e plantou centenas de pés de buriti, juçara e outras plantas nativas. Afinal é a palmeira buriti que dá nome à cidade e sob sua observação tinha que ser multiplicada.
Passou a comprar as gaiolas que tinham casais de pássaros dos tipos canários, gola, vinvins e tantos outros. Ele levava para as matas e soltava o macho. Quando voltava para perto da fêmea e não comia era sinal que tinha encontrado moradia. Aí ele soltava a fêmea também.
Assim, Paulo Silva, passou a comprar de um rapaz na idade de uns vinte anos, que aparecia sempre acompanhado de três molecotes . No começo procuravam as gaiolas com os casais nos povoados. Depois de ter comprado por um bom preço umas quarenta gaiolas o vaqueiro levava os passarinhos para as matas.
Desconfiou que um dos casais já havia sido comprado. O macho tinha um sinal no bico e defeito na ponta da asa. Resolveu procurar nas matas e encontrou várias arapucas e alçapões. Sabia que daí para frente tinha que afastar esses pegadores de passarinhos das suas terras. Resolveu dar pelo menos um susto neles.
Lembrou que quando esteve no Japão havia comprado uma máscara de lobisomem que parecia muito real e pavorosa. Pegou uns couros de bode preto que tinha no porão do casarão e o vaqueiro se enrolou neles. Ficou um lobisomem puro!
Depois levou um enorme chicote de umbigo de boi e no final da tarde se escondeu perto das gaiolas esperando os meninos. No terceiro dia já no lusco-fusco por volta das seis da tarde, eles apareceram.
Pularam a cerca em cima do lajeiro. Quando chegaram perto o vaqueiro
deu vários esturros. O menino mais novo deu um grito.
– Diabo é isso?
O vaqueiro foi esturrando pra cima deles e a carreira foi feia. pega não pega, pega não pega, pega não pega. Apavorados, os rapazes gritavam pedindo socorro.
– Valha me Deus! Nossa Senhora dos Remédios, Santa Mãe de Deus!
Mas o bicho assombroso era veloz e renitente. Parecia soltar fogo pelos olhos. Um verdadeiro demônio saído das trevas. Quando conseguiu alcançar o mais velho, já ia pulando a cerca e deu-lhe uma bruta chibatada nas costas.
Dois dias depois apareceu na boca da noite na casa do deputado, o delegado Maneiro, acompanhado de dois soldados querendo falar com ele. O dono da casa mandou que entrassem. Odelegado falou:
– Deputado, queria pedir licença pra dar um baculejo na sua propriedade. Tem um bicho ruim aí dentro.
– Um bandido? Perguntou Paulo.
– Não, deputado. Um “Lubisone”.
O deputado respondeu:
– Isso não existe não delegado. É conversa fiada!
– Eu fiz foi ver o rapaz no hospital, deputado, O bicho deu uma “zunhada” nas costas de um rapaz, que ia da pá até as cadeiras. Um rasgo monstro. Assim da grossura de um dedo. E ele já atacou uma mulher pras bandas do Osmar Monteiro que ela quais morrer. Também deu uma carreira no Manelão da granja, ali perto do cemitério.
Convencido dos argumentos do delegado, o parlamentar disse:
-Pois é, podem entrar no terreno.
– Hoje não deputado. É melhor na quinta pra sexta-feira, quando ele se transforma.
A unha era a ponta do chicote que o vaqueiro tinha tacado com toda a sua força nas costas do moleque.
Assim após a história de que aparecia um lobisomem naquela região, se espalhou durante vários anos. Ninguém mais entrava mais ali para caçar ou passava por perto, principalmente no período da noite .
(Observe a ponta do chicote maior)
*José Luiz de Carvalho, jornalista, contista, poeta, radialista, atual presidente da Academia Parnaibana de Letras.