Ninguém me convence ao contrário, de que esse modelo de comemoração da independência do Brasil todo dia 7 de setembro com desfiles de tropas e de escolas públicas e particulares com características militares é simplesmente ridícula nos dias atuais.
Lembra os velhos e infelizes tempos idos e vividos pelos países latino americanos a partir do Panamá, da América Central e do Caribe para baixo, passa pela América do Sul, onde está o Brasil e seus vizinhos, Venezuela, Chile, Argentina e até o último no final da fila, o Uruguai.
Essa prática vem de países com costumes culturais e políticos que nesse século passado infestaram o continente com suas ditaduras e caudilhos, sempre idolatrados, bajulados ao extremo e tiveram nas suas forças armadas a sustentação de poder. Repúblicas que tiveram seus ditadores insepultos, populistas, ditos pais dos pobres e tantos outros títulos.
Se eu um dia chegasse a ser presidente da República, o que é difícil imaginar, situação que nunca me passou pela cabeça a partir do desejo de entrar na política e subir em palanque e ser caudatário, estimularia a população e as instituições para que comemorassem o Dia da Independência do Brasil do jeito que comemoram o Carnaval, sem essa falsa demonstração de força.
Nada de desfiles de tropas com seus equipamentos bélicos, canhões velhos, tanques ultrapassados, cavalaria cagando no asfalto para todo mundo ver e achar bonito, os paraquedistas saltando de aviões e deixando o povo de boca aberta, esse povo isolado por bloqueios, suados e com sede a manhã inteira e mesmo assim achando tudo aquilo repetido como a maior das novidades.
Nada de colégios com seus estudantes perfilados em pelotões, as fanfarras naquela batida ensurdecedora, mas mesmo assim servindo para que um aqui e outro ali corra com o celular para tirar uma foto. Nada de crianças fantasiadas de príncipe dom Pedro, da princesa Leopoldina, do velho José Bonifácio com sua peruca de juiz inglês dos tempos da rainha Elizabeth.
Nada de trazer os últimos sobreviventes dos pracinhas brasileiros que foram à Itália na Segunda Guerra. Com todo o respeito. Muitos já andando de muletas ou em cadeiras de rodas, moucos, mas com o peito coberto de condecorações. Tudo isso, essa cena tão remota e ao mesmo tempo deprimente, não é mais compatível com o mundo moderno e a sociedade moderna, a juventude com seus estudantes universitários, a tecnologia da informação, os costumes e a arte.
Esse negócio de desfile militar do Dia da Independência em 7 de setembro deveria ter ficado no passado. Aquele povo, pais ou mães trazendo seus filhos, tias velhas trazendo seus sobrinhos para assistirem ao desfile das Forças Armadas, dos colégios militares, das agora escolas cívico-militares. O mesmo desfile de todos os anos com aquele terror de sol queimando o couro da cabeça. E o povo esticando o pescoço para bater palmas para esse ou aquele pelotão onde está um soldado ou um bombeiro seu vizinho.
Nada de filho ou sobrinho fantasiado de escravo em cima de uma carroça puxada a burro e carregada de cana e sendo chicoteado por um capataz. Tudo aquilo, aquele espetáculo repetido, tentando mostrar uma história do Brasil que o sujeito não viveu, mas apenas ouviu falar.
E a gente se transporta para países totalitários como a Rússia, a China, a Coreia do Norte e outros mais, até aqui na vizinhança, que só conhecem a força bruta e são nações muito distantes da democracia e da liberdade. O dia 7 de setembro deveria ser um dia de muita festa, igual no Carnaval, Natal e no Ano Novo, nas comemorações dos jogos do Campeonato Brasileiro e da Copa do Mundo.
Todo mundo na rua, nas praças, parques, avenidas, vestidos do jeito que bem entendessem, realizando suas habilidades artísticas, científicas, reivindicando, cantando, praticando seus esportes preferidos, conversando assuntos com ou sem importância, enfim, uma grande confraternização, alguns vendendo suas garrafinhas de água, tomando sua cerveja, vendendo ou comendo seu pastel ou chupando um picolé.
Essa é a liberdade desejada! Nada de uma falsa demonstração de força com desfile de tropas, cães amestrados, batalhões de choque, colégio de freiras marchando, recrutas pisando uns nos calcanhares dos outros, ambulâncias do SAMU, escoteiros.
Tem que ser festa igual ao Natal e no Ano Novo, sem hora de voltar para casa, todo mundo descontraído. Vamos deixar esse negócio de marcha, desfile militar no passado. Não existe mais tempo e nem espaço dentro da modernidade para esse tipo de comemoração da independência do Brasil. Fotos: BDC/JNH/ND Mais/IE.
*Pádua Marques, jornalista, cronista, contista e romancista. Membro da Academia Parnaibana de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba.