Anthony Fauci, infectologista que tem liderado esforços científicos do país, revelou dados positivos, mas pesquisa ainda não foi publicada ou revisada
O mundo continua uma corrida contra o tempo para desenvolver algum tratamento eficaz contra a Covid-19 enquanto uma vacina não fica pronta. Nesta quarta-feira (29), dois estudos mostraram resultados promissores ligados ao antiviral remdesivir, normalmente utilizado para o combate à Mers (causada por outro tipo de coronavírus) e o Ebola.
O primeiro deles foi conduzido pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) com 1.090 pacientes distribuídos entre os Estados Unidos e cinco outros países europeus. O que torna esse estudo mais crível do que tantos outros experimentos com medicamentos contra o coronavírus, é a amostragem mais ampla e o fato de que as pessoas foram divididas em dois grupos, com um deles recebendo o tratamento convencional em conjunto com a droga, enquanto o segundo recebeu apenas um placebo inócuo além do tratamento comum. Com essa distinção, é possível comparar com clareza os dados e chegar a conclusões mais assertivas, descartando a possibilidade de que os pacientes simplesmente melhoraram por conta própria.
Segundo Anthony Fauci, chefe do instituto, e que tem liderado os esforços científicos contra a doença nos Estados Unidos, os resultados foram claros. Os pacientes tratados com o remdesivir foram liberados do hospital, em média, após 11 dias, enquanto os que não receberam o medicamento precisaram de 15 dias para receber alta. A melhora de 31% pode não parecer muito, e está longe de ser uma cura mágica, mas a aceleração da recuperação permitiria que leitos hospitalares fossem liberados mais rapidamente, evitando, ou ao menos adiando, o colapso de sistemas de saúde.
Fauci também disse que houve uma pequena melhora na taxa de mortalidade entre aqueles tratados com o remdesivir, mas que a variação foi pequena e, portanto, não é tão significativa do ponto de vista estatístico. Apenas 8% dos pacientes medicados morreram, contra 11% do grupo placebo.
Segundo o pesquisador, o remdesivir estava bloqueando uma enzima utilizada pelo vírus, a RNA polimerase, necessária para que ele se multiplique e cause mais danos ao organismo hospedeiro.
Apesar das declarações, a pesquisa ainda não foi publicada em formato de um artigo para que possa ser revisada pela comunidade científica, então ainda vale a pena ter um pé atrás com os resultados até lá. Fauci disse que sentiu a necessidade de expor os dados mesmo antes da publicação por uma questão ética, para informar ao grupo placebo que eles não receberam a droga.
Fauci também fez questão de rejeitar outro estudo sobre o remdesivir que concluiu sua ineficácia na China. Segundo ele, a pesquisa chinesa “não foi adequada e todo mundo na área sente isso”.
Agora, a Administração Federal de Alimentos e Drogas dos EUA (FDA, equivalente à Anvisa no Brasil) está avaliando a situação e pode determinar que o medicamento passe a ser o tratamento padrão para pacientes com Covid-19. Ainda não há confirmação de que isso acontecerá até o momento.
Paralelamente ao estudo da NIAID, a Gilead Sciences, fabricante do remdesivir, também divulgou resultados de um estudo investigativo sobre o medicamento e seu uso no combate ao coronavírus. A pesquisa foi diferente: seu objetivo era comparar os resultados do tratamento com a droga em ciclos de 5 e 10 dias.
Segundo a empresa, os resultados foram animadores, porque observaram resultados similares entre 397 pacientes divididos entre os dois grupos. Isso daria aos médicos a possibilidade de recorrer a tratamentos mais curtos. Sem um grupo de controle, no entanto, não há muito que possa ser atestado sobre a eficácia nesta pesquisa. A empresa pretende expandir o experimento para alcançar mais pacientes que receberão o tratamento de 5 ou de 10 dias.
Fonte: Olhar Digital