Desde 1959, ou até mesmo uma década antes, a cidade de Buriti dos Lopes valorizou a presença feminina no seu comando político. A primeira mulher a se destacar foi Zezita Cruz, ao ser eleita prefeita, filha de uma das 11 mulheres do rico empresário Antônio Romão de Sousa. Acredita-se que o lendário Antônio Romão tenha tido pelo menos 42 filhos, espalhados entre os municípios de Buriti e Magalhães de Almeida, e tinha o costume de montar uma fazenda e uma quitanda para cada uma dessas mulheres, para que criassem bem os seus filhos. Mas voltando ao tema principal.
A liderança e o poder da morena bonita de canelas finas, que encantava a sociedade buritiense, só vieram mesmo a consolidar-se ao ponto de ser destacada na capital do Piauí e em Parnaíba, onde tinha outra casa. Isso ocorreu após o envolvimento e o casamento com o contra-almirante Gervásio Pires de Sampaio, que também foi vice-governador do Piauí. Seu nome marcou uma das páginas mais glamorosas, porém cheias de controvérsias e polêmicas, ao lado do enteado Venceslau Sampaio, grande líder empresarial e político, tendo sido deputado estadual, rígido e perseguidor de adversários.
A “Dama de Ferro” chegou a ter influência na política dessa grande região, controlando as indicações para cargos públicos estaduais e federais. Seu legado inspirou outras mulheres na política buritiense. No ano de 1989, surgiu, com o prefeito Narciso Castro, a líder e destacada primeira-dama Jandira Áurea. Enquanto o marido era um conceituado e laborioso médico no Hospital de Nossa Senhora de Fátima, em Parnaíba, ela fez a cidade funcionar com sua destacada habilidade.
Na década de 1990, surge em Buriti, uma jovem chamada Ivana Fortes dos Santos, acompanhando e fazendo discursos ao lado do seu marido, Jarbas Fortes, que havia tentado por várias vezes uma vaga de vereador. Acabou sendo eleito, e ela, depois, tentou ser eleita prefeita sem sucesso. No entanto, quando foi eleita, governou por oito anos aquela cidade no período de 2005 a 2012, pois foi reeleita após realizar talvez a melhor gestão municipal de todos os tempos. Essa foi a breve história das poderosas mulheres em solo buritiense. Claro que outras mulheres também tiveram destaques, mas essas marcaram sua história, por terem exercido um protagonismo mais forte, muitas vezes até questionável.
Hoje, em Buriti, vive-se novamente um momento significativo para as mulheres buritienses, marcado pela certeza de que em 2024, uma mulher assumirá o comando sobre os destinos dos habitantes locais. Em virtude da existência de apenas dois grupos políticos relevantes, essa certeza está relacionada aos nomes de Laura Rosa Portela e Jaqueline Carvalho Brito, ambas empresárias e com experiência como vereadoras.
Laura, atualmente afastada para desempenhar o cargo de Secretária Municipal de Obras e Infraestrutura, é indicada pelo prefeito Júnior Percy, contando com o apoio de seis vereadores. Por sua vez, Jaqueline, com vários mandatos como vereadora e experiência como presidente da Câmara Municipal, é indicada pelo governador Rafael Fonteles, contando com o respaldo de quatro vereadores.
A situação é reminiscente das lendas gregas ou amazônicas, que registram a existência de sociedades governadas por mulheres, as Amazonas, onde os homens desempenham papéis secundários.
- José Luiz de Carvalho, jornalista e escritor (Artigo de opinião)
