O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condecorou nessa quarta-feira dia 12 em cerimônia no Palácio do Planalto, professores, pesquisadores e entidades com a Ordem Nacional do Mérito Científico.
Criada em 1993, a Ordem Nacional do Mérito Científico presta uma homenagem a “personalidades nacionais e estrangeiras que se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação”.
Entre os homenageados, estão pesquisadores que tiveram a condecoração retirada, em 2021, pelo então presidente Jair Bolsonaro em razão de trabalhos que contrariaram posições do governo:
- Adele Benzaken: demitida do cargo de diretora do Departamento HIV/Aids no Ministério da Saúde após publicar cartilha sobre a prevenção de doenças para homens trans
- Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda: responsável por um dos primeiros estudos que apontaram a ineficácia da cloroquina no tratamento da Covid-19
Após Bolsonaro retirar a distinção de Benzaken e Lacerda, outros 21 cientistas renunciaram à honraria. Segundo o Palácio do Planalto, esses pesquisadores também receberão suas medalhas.
O governo Lula adotou, para a cerimônia desta quarta, um tom de “reparação histórica” no evento chamado de “A ciência voltou”. A estratégia governista é a de fazer um contraponto à gestão passada, que teve embates com pesquisadores e desvalorizou as universidades públicas.
Ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos afirmou que a solenidade é um ato de “desagravo” aos profissionais que foram “injustamente perseguidos” pelo governo Bolsonaro.
“É também um ato de desagravo à ciência e de reparação histórica aos cientistas, professores, professoras, médicos, pesquisadores e pesquisadoras, brasileiros e brasileiras que foram injustamente perseguidos e ameaçados por um governo anticiência e antivida”, declarou.
Ex-presidente do Inpe condecorado
Lula também concedeu a medalha a Ricardo Magnus Osório Galvão, ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Doutor em física e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), Galvão é um dos cientistas mais respeitados do país e deixou o Inpe após divergir de Bolsonaro em relação aos dados que mostraram alta do desmatamento na Amazônia, medidos pelo instituto.
Em 2019, o então presidente acusou o Inpe de divulgar dados mentirosos e estar a serviço de uma ONG. Galvão respondeu a Bolsonaro e defendeu o sistema, reconhecido internacionalmente. Na sequência, foi exonerado.
Lula também conferiu a Ordem Nacional do Mérito Científico à Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897 com a intenção de cultivar a língua e a literatura nacional.
Grandes escritores ocuparam cadeiras na ABL, entre os quais, Machado de Assis, considerado um dos maiores autores em língua portuguesa.
O presidente da ABL, o jornalista Merval Pereira, comentarista da GloboNews e colunista do jornal “O Globo”, afirmou que a condecoração “mostra um governo preocupado com o desenvolvimento da ciência” e que reconhece a cultura como parte deste processo.
“Esse prêmio é a ciência reconhecendo a cultura como parte integrante do desenvolvimento brasileiro, o que é muito importante e mostra o caminho que o governo está tomando”, disse Merval.
Lista de homenageados
O governo publicou nesta quarta, no “Diário Oficial da União”, a relação de pesquisadores e entidades agraciadas com a Ordem Nacional do Mérito Científico.
Além de Adele Benzaken, Marcus Vinicius de Lacerda, Ricardo Galvão e da ABL, a relação também tem:
- Luiz Pinguelli Rosa(in memoriam), professor emérito da UFRJ;
- Marco Americo Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional;
- Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, professor da Unicamp;
- Stevens Kastrup Rehen, professor da UFRJ;
- Marcelo Marcos Molares, professor da UFRJ;
- Renato Sérgio Balão Cordeiro, professor da Fundação Oswaldo Cruz;
- Maurício Lima Barreto, professor UFBA;
- Maria Teresa Fernandez Piedade, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; e
- Maria Stela Grossi Porto(in memoriam), professora emérita da UnB;
- Silvio Crestana; pesquisador da Embrapa;
- Carlos Alfredo Joly, professor aposentado da Unicamp;
- Isaac Rotiman, professor emérito da UnB;
- Academia Nacional de Medicina;
- Escola Politécnica da Universidade de São Paulo;
- Museu Paraense Emílio Goeldi.
Conselho de Ciência e Tecnologia.
Lula também retomou o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), órgão de assessoramento do presidente da República, que não se reúne desde agosto de 2018, de acordo com o governo. Fonte/Foto: O Globo. Edição: APM Notícias.