Quando menino, eu e alguns amigos nos reuníamos todo final de tarde num cantinho do campo do Fabril, aquele quadrado ali entre a avenida São Sebastião e as ruas Afonso Pena, Tabajara e José Bonifácio. Íamos ver o pessoal do Palmeiras do Chaga Toba treinando e quando dava quórum entre os nossos a gente formava dois times e também batia uma bolinha, de preferência bola de meia. Quem teve infância e hoje tem mais de sessenta anos de idade sabe do que estou falando.
Aquele rito de toda tarde acabou fazendo com que entre nós se construíssem amizades que até hoje mantemos. Com alguns de nós mais velhos já chegando à adolescência e tendo que procurar uma coisa pra fazer, aprender um ofício pra mais tarde dar dinheiro em casa, nosso grupo foi se desfazendo.
Parnaíba pouco ou quase nada oferecia pra quem quisesse fazer carreira. Era no máximo fazer um curso no Senai ou, já engrossando a voz e o talo da pinta, entrar na Marinha ou rezar pra ter um concurso da Caixa ou do Banco do Brasil. Eram as quatro únicas saídas pra rapazes pobres.
Mas voltando pro campo do jogo da bola de meia, eu lembro de colegas e amigos incríveis na arte de fazer gols, driblar, fazer defesas espetaculares, armar jogadas, exercerem liderança dentro de campo.
E o jogo de bola de meia é uma excitação sobre o outro tipo de jogo de bola, disputado por mais gente dentro de campo. É que no jogo da bola de meia a partida é disputada por apenas um jogador de cada lado. Lembra uma partida de tênis sem a rede de obstáculo no meio.
Falando em armar jogadas dentro de campo o chato era quando um dos jogadores já cansado daquele bate e volta e volta e bate, já no cair da tarde e todo mundo querendo ir pra casa, alguém achava de fechar a brincadeira. Um dos meninos restantes chutava a bola de pano pra bem longe e então acabava o jogo.
* Pádua Marques, romancista, cronista e contista. Membro da Academia Parnaibana de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba.