O TESOURO
DE NICOLAU DE REZENDE
Por Adrião Neto
Nicolau de Resende, um dos primeiros europeus a se fixar no norte do Piauí, foi um navegador português, que em 1571, após enfrentar uma violenta tempestade e ter sua caravela avariada, naufragou nas proximidades de uma das ilhas do Delta do Parnaíba, onde chegou a nada e juntamente com seus companheiros, foi acolhido pelos índios Tremembés, de quem ganhou a amizade e a confiança.
O Delta do Parnaíba – lugar onde ele naufragou, constituiu família e viu-se obrigado a morar pelo resto da vida, é o único das Américas em mar aberto e terceiro maior do mundo, ficando atrás apenas do Delta do Mekong no Vietinã (Ásia) e do Delta do Nilo, no Egito (África), onde andei; é um santuário ecológico, que abriga uma enorme variedade de espécies de peixes, crustáceos, quelônios, aves, jacarés, macacos e outros mamíferos da nossa fauna. É um arquipélago, formado por mais de 70 ilhas. Tem uma área superior a 2.700 Km² de igarapés, rios, canais, lagoas, dunas, praias e manguezais, constituindo-se num deslumbrante espetáculo natural, de encher os olhos dos nativos e dos privilegiados que têm a sorte de conhecê-lo.
Quem já teve a oportunidade de fazer um passeio de barco pelo Delta do Parnaíba, deve ter ouvido uma das versões da história desse navegador português dando conta de que ele teria sido atacado por piratas e ao tentar se livrar de seus perseguidores, adentrou pelos igarapés desse delta, onde naufragou com sua caravela abarrotada de ouro.
Contam também que ele teria passado 16 anos tentando encontrar o seu tesouro.
Até hoje há quem jure, que essa imensa fortuna ainda se encontra submersa no fundo do leito de um dos braços do rio Parnaíba, à espera de ser resgatado.
No entanto, baseado nas minhas pesquisas históricas, posso afirmar categoricamente que fabuloso tesouro nunca existiu, mesmo porque em 1571 (71 anos depois do descobrimento do Brasil), a costa nordestina albergava apenas 04 vilas (Igarassu fundada em 1535, Olinda em 1537, Recife em 1537 e Salvador 1549). Por outro lado, ainda não existia mineração no Brasil, o que ocorreu somente por volta de 1693, com a descoberta das primeiras minas de ouro e prata na região de Sabará, Minas Gerais.
Se é que Nicolau de Resende conduzia esse rico carregamento de ouro, onde ele o teria encontrado e para onde estaria levando?
Se é que realmente ele transportava essa valiosa carga, posso afirmar que ela não foi embarcada no Brasil e que não estaria sendo levada para nenhuma das vilas da região do naufrágio, simplesmente porque naquele tempo elas ainda não existiam.
Pelas minhas pesquisas posso afirmar, que esse navegador português, que bem poderia ser um pirata, não perdeu nada, muito pelo contrário, ele tirou a sorte grande de encontrar um paraíso, o Delta do Parnaíba, um dos maiores tesouros naturais do mundo.
Não obstante a tudo isso, o imaginário popular, com suas histórias fantasiosas, nos remete a essa lenda fantástica de um precioso carregamento de ouro perdido no Delta do Parnaíba, onde durante as noites de luar uma caravela fantasma tripulada pelas almas de Nicolau de Resende e de seus companheiros, faz ronda na região para proteger a sua valiosa carga dos piratas do além e dos ambiciosos caçadores de tesouro.
Na verdade, a verdadeira história de Nicolau de Rezende e da sua luta durante 16 anos para resgatar o seu suposto carregamento de ouro, está estampada nas páginas do livro “Tratado Descritivo do Brasil em 1587”, de Gabriel Soares de Sousa.
O autor, um senhor de engenho em Recife, de origem portuguesa, montou uma expedição exploratória para estudar o litoral nordestino.
Em seu livro ele afirma que no ano de 1587, esteve no Delta do Parnaíba, onde encontrou um patrício chamado Nicolau de Resende, que em 1571 havia naufragado naquele delta e fora acolhido pelos índios locais. Fala ainda sobre a boa convivência do seu compatriota com os nativos e da grande contribuição, com valiosas informações, que ele deu para o bom êxito das suas pesquisas.
A obra não fala sobre o carregamento de ouro, no entanto em relação ao tempo de procura do suposto tesouro, a matemática nos dá a pista: 16 anos é exatamente o tempo entre o naufrágio e a data em que o náufrago foi encontrado pelo autor do livro (1571 a 1587).