Que ninguém se iluda se daqui a muito pouco tempo ou a longo tempo mesmo, o Brasil, que até bem pouco era exemplo de democracia na América do Sul, não se transformar num Congo, Somália, Iraque e Haiti, somente para nomear alguns países onde por radicalismo, fanatismo, mudanças políticas bruscas, se transformaram em um inferno para se viver.
O perigo agora é mais real no Brasil do que se imagina a partir dessas eleições de 30 de outubro se o atual presidente for reeleito. Mas é bom que se diga que essa montagem de estado vem sendo feita aos poucos desde 2018. Ninguém do meio do povo deu sentido, prestou atenção, mas os mais atentos viram nas atitudes de Bolsonaro fortes sintomas.
Engraçado como os brasileiros todas as noites colocam os olhos e os ouvidos para ver televisão e depois se danam a dar opiniões na vida alheia, de forma alguma pararam para pensar que este estado político um dia, de forma mais remota, pudesse, corresse o risco chegar na porta de casa.
As nações africanas agora neste instante ou mais no passado como Angola, Moçambique, Congo, Somália e vizinhos, no Oriente Médio, o Iraque, Afeganistão, Irã e mais lá na Ásia, nas Filipinas, Tailândia. Abaixo da linha do Equador, Nicarágua, Colômbia, Haiti, Venezuela e arredores. Todas essas nações com enorme e duradoura instabilidade política.
Corremos sim um risco enorme de entrar nesse grupo. E mais interessante que este risco não virá dos grupos políticos de esquerda, mas de direita.
Começou em 2018 com a subida na rampa do Palácio do Planalto de um deputado federal sem expressão, ex-capitão do Exército, ligado a grupos armados do Rio de Janeiro, sua base eleitoral. Conhecido por sua truculência, áspero e longe de ser um homem com urbanidade. Conhece e muito bem a caserna, o trato grosseiro dispensado aos subalternos.
Com o poder nas mãos e depois de eleito muito mais visível, Bolsonaro achou terreno adubado para plantar as bases de seu projeto de ditadura. Mas é incrível como também é visível, que é um elemento de fácil manuseio de opinião. Até agora a maioria não descobriu as pistas de quem seja esse que o orienta, manipula.
Bolsonaro não tem, até pela formação na caserna e a baixa estatura dentro do Congresso em quase trinta anos, esse conhecimento todo da vida e da estrutura política, econômica e social do Brasil. Portanto é um político que com a maior facilidade pode cair em mãos erradas.
Este é o risco. É o mesmo risco de outros tantos homens públicos que se iniciaram na nefasta arte de levar desagregação, intriga, sofrimento e instabilidade em qualquer lugar que domine.
Muita gente há de achar que a possibilidade do Brasil se transformar em mais um país dominado pela disputa sangrenta, com guerra civil, radicalismos extremos seja impossível, remota, fora de propósito, eu cá comigo começo a ver de outra forma. Talvez até nem com ele no poder. Mas por aqueles que o sucederem.
Ganhando essas eleições amanhã dia 30 de outubro num segundo turno tenso, Lula, o candidato do PT não terá vida fácil. Vai governar com pouca gente do seu lado no Congresso. Com o tempo e só o tempo há de dizer, muitos que juraram na frente das câmeras de televisão seu apoio, o abandonarão.
*Pádua Marques, jornalista e escritor. Fotos ilustrativas: Google.