*Por Pádua Marques.
Embora não pretenda, estou comprando uma briga feia com a ala conservadora de políticos e empresários piauienses ao tocar em um assunto e tanto a ser discutido, podendo mesmo se afirmar com todas as letras do alfabeto que é motivo de piada a enriquecer o anedotário sobre o Piauí toda vez em que é tocado aqui e lá fora. É um direito meu!
A construção do porto de Luiz Correia há 180 anos sem definição, não encontra respaldo em rodas de conversas de meia dúzia de quatro. Quem se atreve a puxar esse papo é logo taxado de louco ou de estar querendo fazer tipo. É como querer ressuscitar a cavalaria andante de Quixote ou esperar a volta de dom Sebastião, desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir.
Conheço em Parnaíba e pelo Piauí poucos Quixotes. Desses que acreditam em Fênix sem dispensar o velho e bom Papai Noel de todo dezembro. Mas voltando ao porto de onde me afastei um pouco eu até que defendo uma definição para o caso. Não com aquela visão apaixonada, cega e cheia de clichês, muito comum na imprensa parnaibana.
Mas como pedra de toque para uma discussão maior, o porto deve ser visto como uma saída porque estamos em todos os setores a reboque do desenvolvimento. O porto de Luiz Correia é uma necessidade. Pelo menos uma necessidade que se diga por que não há empenho de políticos e empresários piauienses pela sua construção. O presidente da Academia Parnaibana de Letras, Lauro Correia defende, como sempre fez, uma definição para o problema.
Nos últimos dias escreveu uma carta aberta ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ao governador Mão Santa, tendo merecido grande espaço na imprensa da capital. De FHC já obteve resposta quando o gabinete do presidente acusou recebimento e encaminhou cópia ao Ministério do Planejamento para uma avaliação, segundo Lauro Correia. Do governador e de seu secretário de Indústria e Comércio ainda não obteve resposta.
O professor e ex-prefeito Lauro Correia, admira pela firmeza com que defende seus pontos de vista. Convivo com ele como jornalista em várias oportunidades. Na última vez que nos encontramos me ofereceu com dedicatória a edição 61 do Almanaque da Parnaíba, onde em um longo artigo mostra pelo menos 11 caminhos do desenvolvimento na região, desde a exploração do pescado, agricultura, minério e naturalmente acaba no porto de Luiz Correia. Dirão alguns, “mas falar daqui não adianta”.
Tudo bem, pode até não adiantar, mas pior é ficar calado. Eu agora acredito que o lugar do engenheiro Lauro Correia não é aqui. Seu lugar há bastante tempo deveria ser em Brasília ao lado dos outros, Alberto Silva, Chagas Rodrigues e Freitas Neto. Aliás. Freitas Neto como senador piauiense de primeiro mandato é uma dessas exceções. Imagina como poucos políticos ou administradores que o desenvolvimento do Piauí começa pelo porto.
Freitas trabalha em silêncio e com os pés no chão. Bem diferente de muitos que se encastelaram em Brasília por várias legislaturas só fazendo discursos. Aos deputados e senadores “sulistas do Piauí” tudo leva a crer não interessar o desenvolvimento da região norte com o porto de Luiz Correia. A região centro-sul do Piauí ao que parece não
depende do Norte. Ora, tudo o que se produz hoje, do milho, gado e até a soja, passa sem dificuldades nas suas portas rumo ao sul do Brasil. Para nós do norte do Piauí fica o turismo e o turismo como atividade econômica sozinha não basta.
Sem estrutura e vivendo de temporada, o turismo emprega pouca mão-de-obra. E o Piauí sem porto, isolado no Nordeste, se compara a um soldado marchando num pelotão com o passo errado, sendo pisado no calcanhar e pisando o calcanhar dos outros. Sem querer ofender a categoria, Parnaíba, pelo pouquíssimo que produz e exporta vai continuar trabalhando para o Ceará.
Igual a essas empregadas domésticas que, chegando em nossas casas ainda mocinhas, ganham a confiança da patroa, criam nossos filhos, tomam de conta de tudo, preparam nossa sobremesa e a Ceia de Natal e no fim da vida têm o direito de dormirem num quartinho ouvindo rádio de pilha ou assistindo a novela da Globo num aparelho Toshiba, comprado de segunda mão, como se fossem pessoas da família. (Este artigo foi escrito em 27 de janeiro de 1997 e publicado no jornal O Dia). *Pádua Marques, jornalista, contista, cronista e romancista. Da Academia Parnaibana de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba.