Por Adrião Neto
O poeta, teatrólogo e magistrado, cantor, compositor e músico parnaibano Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva – pioneiro da nossa literatura -, foi o primeiro piauiense a se aventurar na seara da poesia. Filho do tabelião Antônio Saraiva de Carvalho e dona Margarida Rosa da Silva (vindos de Portugal a convite do grande empreendedor Domingos Dias da Silva), nasceu em 1784 na próspera Vila de São João da Parnaíba. Muito jovem, em tenra idade, com apenas seis anos, foi enviado pelos pais para estudar em Portugal, onde inicialmente ficou na casa de parentes, no entanto, no fim da adolescência passou a morar em repúblicas de estudantes.
Em outubro de 1805, ingressou no curso de Leis da Universidade de Coimbra, onde cinco anos depois conquistou o diploma de bacharel. Ainda como estudante universitário, envolveu-se com um grupo de boêmios, tornando-se em um dos mais destacados cantores, compositores, seresteiros e tocadores de viola das longas noites de farra pelas ruas daquela acolhedora cidade portuguesa.
Nesse tempo de estudante e seresteiro, escreveu e publicou o seu primeiro livro: “Poemas”, editado em 1808 – uma obra fruto de sua vivência e formação lusitana, com nítidas influências neoclássicas e de Bocage, mas, mesmo assim, é considerado pelos estudiosos como o marco da Literatura Piauiense.
Ainda como estudante daquela importante universidade, Ovídio participou ativamente do Corpo Militar Acadêmico nas lutas pela liberdade de Portugal, que havia sido invadido pelo exército francês sob o comando de Napoleão Bonaparte, obrigando a família real e toda a nobreza a se refugiar no Brasil. Lutou bravamente ao lado de José Bonifácio de Andrada e Silva e de outros brasileiros para livrar Portugal do julgo francês.
Depois de formado e já casado com dona Umbelina Joana Almadarino, filha do desembargador da Relação do Porto Francisco M. de Vasconcellos Almadarino, Ovídio retornou a Parnaíba para apresentar a jovem esposa aos pais.
Permaneceu em sua terra natal até 1811, quando se afastou para assumiu o cargo de juiz de fora da comarca de Mariana, em Minas Gerais, de onde em 1816, foi transferido para a comarca de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, em Santa Catarina, acumulando as funções de provedor dos defuntos e ausentes, capelas e resíduos.
Em outubro de 1819, foi removido para a província da Cisplatina, atual República Oriental do Uruguai, onde foi empossado no cargo de desembargador da Relação local. De lá foi removido para a corte, assumindo o cargo de desembargador da Relação do Rio de Janeiro, onde se aposentou
Ingressando na política, foi eleito representante do Piauí junto as cortes constituintes de Lisboa, onde não chegou a tomar posse e foi substituído por seu suplente padre Domingos da Conceição, que na ocasião era vigário da Paroquia de Nossa Senhora da Divina Graça, em Parnaíba.
Ovídio Saraiva é considerado o precursor do teatro em Santa Catarina, quando a partir de 1817, promoveu apresentações teatrais, nos salões de sua residência, onde também realizava as audiências, encenando peças teatrais de sua autoria, incluindo: “A Tragédia de Fayal”, festejando a coroação de dom João VI. Lá, também promoveu os primeiros concursos literários catarinenses.
Além do mais, há registro de que, ainda durante sua estada na Vila do Desterro, ele teria fundado o seu próprio teatro com plateia distinta, onde “fez elogio sublime composto por ele mesmo, vestido de grande gala; em seguida foi apresentada a tragédia de Ignez de Castro. A vila iluminou-se por três noites, cantou-se Te Deum em ação de graças na presença da Câmara, tudo presidido pelo magistrado piauiense”.
O desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, que também era maçom, faleceu na cidade Piraí, RJ, onde residia, a 11 de janeiro de 1852.
Foi homenageado em sua terra natal com o nome de uma rua situada no bairro São Judas Tadeu.
Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva é autor de várias obras, incluindo a letra do primeiro Hino Nacional Brasileiro, uma homenagem ao sete de abril.
Vejam abaixo a letra do hino composto pelo poeta parnaibano:
Hino em homenagem ao sete de abril
Amanheceu finalmente a liberdade ao Brasil
Não, não vai a sepultura o dia 7 d’abril
Não, não vai a sepultura o dia 7 d’abril
Da pátria o grito em se desata
Do Amazonas até o Prata
Da pátria ao grito em se desata
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até o Prata.
7 d’abril sempre ufânio dos dias seja o primeiro
Que se chame Rio d’Abril o que Rio de Janeiro.
Que se chame Rio d’Abril o que Rio de Janeiro
Que se chame Rio d’Abril o que Rio de Janeiro.
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até o Prata
Da pátria ao grito em se desata
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até o Prata
Do Amazonas até o Prata
Uma regência prudente um monarca brazileiro
Nos prometeu um venturoso o porvir mais lisonjeiro
Nos prometeu um venturoso o porvir mais lisonjeiro
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Da pátria ao grito em se desata
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Do Amazonas até ao Prata
Neste solo não deseja a planta da escravidão
A quarta parte do mundo deu as três melhor lição
A quarta parte do mundo deu as três melhor lição
A quarta parte do mundo deu as três melhor lição
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Da pátria ao grito em se desata
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Do Amazonas até ao Prata
Lançado por mãos de escravos não tememos ferros vis
Ferve o amor da liberdade até nas damas gentis
Ferve o amor da liberdade até nas damas gentis
Ferve o amor da liberdade até nas damas gentis
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Da pátria ao grito em se desata
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Do Amazonas até ao Prata
Novas gerações se sustentem da pátria ao vivo esplendor
Seja sempre a nossa glória o dia libertador
Seja sempre a nossa glória o dia libertador
Seja sempre a nossa glória o dia libertador
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Da pátria ao grito em se desata
Da pátria ao grito em se desata
Do Amazonas até ao Prata
Do Amazonas até ao Prata.
SOBRE O AUTOR
Adrião Neto – Dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista com vários livros publicados. É o autor da ideia da inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo (13 de março de 1823) na Bandeira do Piauí e da proposta exitosa para homenagear, com estátuas, os vaqueiros e roceiros no Monumento Nacional do Jenipapo, em Campo Maior, Piauí, onde a Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras afixou duas placas alusivas a esses eventos, incluindo citação do seu nome.
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