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Passarinho e o Corvo. *Isabela Silva Barbosa.

 

 

 

Alguma vez na sua vida, sentiu tristeza? Não uma tristeza comum. Uma tristeza que acaba com você, que não te deixa ficar feliz é como se você tivesse travado naquele sentimento. Pois é. O passarinho se sentia assim. Ele estava exausto e cansado de lutar. Cansado de ter que cantar músicas tão felizes e alegres quando ele está triste e abalado.

Ele olhava pro seu reflexo na correnteza do rio. O rio. Esse sim era livre e sem rótulos. Ele estava decidido. Ele ia descansar agora. Um descanso mais que merecido.

-Estás muito na ponta, passarinho.

-Eu sei.

-Estás decidido mesmo?

-Sim.

-Afinal por que?

-O que queres corvo?

-Quero entender. Por que um passarinho está na beira de uma ponte?

– Com certeza não estás somente a apreciar a vista não é?

-Estou cansado corvo. Eu só quero descansar..

-Entendo. Por que?

-Como?

-Um passarinho como você, de canto bonito, de inúmeros amigos por que quer morrer?

-E isso que vai me matar. Achas que só porque eu sou um passarinho tenho que ser feliz? As pessoas não ligam pra mim somente pro meu canto! Só porque sou um passarinho não significa que tenho que estar feliz! Eu tentei! Juro que tentei ser feliz. Mas me julgaram quando disse que preferia um pão de praça jogado pelos velhos do que sementes dadas em troca de minha liberdade e meu canto! Eu não posso sofrer! Eu juro… que tentei… pedir ajuda.. Mas tudo que ouvi foi: “Tu és um fraco.” Será que não entendem?

-Eu te entendo agora passarinho. Sou um corvo. Corvos são julgados desde seu nascimento, titulados de azarados e trazedores de notícias ruins e má sorte. Eu luto todos os dias contra esse sentimento que sentes agora. Mas eu sei o que sentes, acredite eu sei. Todos me olham com julgamentos e olham pra você com ternura. Era assim que eu pensava antes de te conhecer.

-Eles não nos deixam viver, corvo. Nós somos condenados a ser quem eles querem que sejamos! Como consegues corvo? Como consegues continuar lutando?

-Eu tenho outros animais que sabem quem eu sou e não me julgam. É por eles que luto contra esse sentimento todos os dias. Somente por eles. Todos nós somos assim. Romantizamos os sofrimentos alheios e enchemos o peito de ar pra dizer que isso sim é vitória.

-Eles se esquecem que somos seres individuais e nem todos gostam dessa ideia. A ideia de termos que sofrer até o fim pra sermos alguém de mérito. Parece que eu sou obrigado a sofrer, sofrer e sofrer até o fim da minha vida pra ter direito de estar cansado. Eu não quero! Não quero sofrer o tempo todo pra ser ouvido!

-Eu entendo perfeitamente passarinho. Eu só permaneço aguentando tudo por aqueles que eu amo. Já você, é um guerreiro.

-Não sou.

-És. Estás suportando essa dor por muito tempo. Esteve dando o seu melhor pra continuar sua jornada. Mas agora estás cansado e quer um basta. Tu és forte por seguir durante todo esse tempo.

-Eu sinto que não vivi, corvo. Sinto que só sobrevivi.

-Mas ainda assim você lutou.

-Eu não quero lutar até o fim pra sobreviver! Quero lutar até o fim pra viver! Entende?!

-Não basta pra ti somente sobreviver. Você quer viver. Todos nós nos focamos em sobreviver que esquecemos de viver de verdade.

-Eu cansei, corvo. Cansei de aturar os olhares falsos e os rumores inventados pelos mesmo que fizeram-me elogios. Se eu erro ao menos uma vez, se torna insuportável. Antes eu tinha confiança, agora viro noites sem dormir por causa de um mísero erro que pode ser concertado.

-Existem aqueles que acreditam estando na sua humanidade que esquecem de fingir ter uma.

-Eu só estou cansado. Cansado deles, cansado de engolir meus verdadeiros sentimentos e ser igual a eles.

-A verdade e que eles chamam de fracos aqueles que não querem fingir igual a eles. Sofrer não significa vitória, passarinho. A verdadeira vitória é daqueles que aguentaram o seu máximo e deram tudo de si pra suportar. Eu sinto que não posso te convencer do contrário, passarinho, mas saiba que mesmo que eles te julguem e te taxem de fraco, eu sei e reconheço você como um herói e alguém forte. Não te preocupas, sei de teus sentimentos verdadeiros e da tua história. Mesmo que só eu.

-Obrigado, corvo. Continue sua jornada.

-Eu quero ficar e estar do teu lado. Se vais mesmo fazer isso, que não faças sozinho.

-Tu és incrível, corvo. Continue vivendo e não sobrevivendo.

-Claro!

-Só mais uma coisa. Por favor, não esqueces de mim e da lição que te deixei.

-Jamais.

O passarinho então pulou e assim começou sua nova jornada. Seu corpo foi comido pelas piranhas, mas sua alma estava com o corvo, inteiramente viva. “Ele era um belo pássaro! Quanto mimimi.”.

“Não entendo por que ele fez isso! Eu ja sofri muito mais. Fresco.” “É realmente horrível. Ele tinha tudo. De que ele estava cansado?” Por que é tão difícil entender o sofrimento dos outros? O corvo não já sabia a resposta daquela pergunta. Por que eles não entendem os sentimentos alheios.

 

*Isabela Silva Barbosa, estudante da 8º série do Ensino Fundamental, CAIC Albertina Castelo Branco, Parnaíba, Piauí. Tem 14 anos de idade. Seu gênero literário preferido é o romance, contos e especialmente a fábula e o terror.

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