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Por que a vacina contra o coronavírus pode demorar para chegar?

Mesmo com notícias animadoras de vacinas em progresso histórico, as medidas de distanciamento social não podem ser afrouxadas sem indicativos claros de combate eficaz ao coronavírus. Ainda que elas nos deem esperança, evitar o contágio é a melhor forma de preservar a vida, já que tipos de imunização podem estar a anos de serem disponibilizados ao público.

Quem traz essa afirmação é a especialista em desenvolvimento de vacinas Maria Bottazzi, da Bayor College of Medicine, universidade do Texas. O “banho de água fria” não é dado para assustar as pessoas, longe disso, mas, de acordo com ela, as expectativas em torno do lançamento até o fim do ano da Universidade de Oxford são algo fora da realidade.

Maria explica que pesquisadores precisarão de tempo para descobrir quão bem a novidade protege o organismo e se efeitos colaterais podem surgir em uma exposição ao vírus posterior à imunização. Além disso, mesmo que os testes sejam todos bem-sucedidos, produzir centenas de milhões de doses é um desafio e tanto. A especialista complementa que, considerando as melhores circunstâncias, serão necessários de 12 a 18 meses até que grande parte da população receba a devida proteção – e isso já seria um recorde, ainda que imprudente.

Segurança nos processos é fundamental.

Passo maior que a perna

Em 2013, um estudo apontou que vacinas experimentais têm somente 6% de chance de chegarem ao mercado, sendo que uma análise publicada em 2019 aponta a probabilidade de 33,4% de sucesso daquelas que atingem a fase de testes clínicos. E mais: entre 1998 e 2009, a média de tempo de desenvolvimento de vacinas era de 10,7 anos. Na luta contra o Ebola, a solução mais rápida da História foi produzida em “apenas” cinco anos.

Por isso, Bottazzi teme que, para que algo saia ainda mais rápido, como os 18 meses citados em suas estimativas, sem nem considerar as previsões para o fim deste ano do Reino Unido, parte do processo tenha de ser adiantada para a disponibilidade em massa da vacina, o que significaria dar continuidade a etapas sem antes verificar o sucesso das anteriores. As consequências desse adiantamento poderiam ser desastrosas.

Se algo falhasse, financeiramente, empresas envolvidas enfrentariam perdas gigantescas em investimentos. Além disso, questões relacionadas à segurança do medicamento rapidamente deixariam as pessoas receosas de qualquer lançamento posterior, adicionando-se à equação a ausência de estudos dos efeitos a longo prazo.

Novos tempos

Apesar do choque de realidade, devemos levar em consideração que o coronavírus mudou fundamentalmente a sociedade global e as prioridades governamentais. Líderes estão dedicando todos os esforços ao desenvolvimento de vacinas que, dadas as circunstâncias, mesmo representando uma solução temporária, salvariam milhões de vidas e auxiliariam o mundo todo a retomar suas atividades.

Por exemplo, o ministro da Saúde do Reino Unido Matt Hancock declarou que o país vai direcionar recursos para instalações voltadas à fabricação de qualquer candidata que se mostre apta à produção em massa – dando tudo de si para chegar a um resultado. Bill Gates também entrou na luta, afirmando que está envolvido com a construção de estruturas para sete possíveis vacinas. Um custo bilionário, de acordo com ele, mas um tempo precioso.

Há muito o que não se sabe sobre o Sars-CoV-2 nem sobre sua interação com nosso organismo. Existe, inclusive, a chance de nem possuirmos a capacidade de imunização a longo prazo. De qualquer forma, mais de 100 vacinas estão em estágios diferentes de testes. Quanto mais forem analisadas, melhores serão os resultados.

Espera pode ser longa, mas é necessária.

Mark Woolhouse, da Universidade de Edimburgo, explica que a urgência nos processos deve ser mantida, já que países vulneráveis não podem simplesmente aguardar que uma vacina chegue até eles. “Pedir que façam isso não se trata de estratégia. Não é estratégia. É esperança”. Infelizmente, esperança não é capaz de frear o coronavírus – mas altos investimentos e otimização da cadeia de testes sim.

Imunização contra o coronavírus é algo esperado pelo mundo todo. Entretanto, é preciso ser realista e enfrentar o dia a dia com as armas que temos – distanciamento social, testagem eficaz, rastreio de contaminação e quarentena, além do uso de máscaras e higienização constante.

Fonte: TecMundo

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