A Livraria Saraiva fechou. No Brasil, outras grandes livrarias, infelizmente, seguem o mesmo caminho. Se a falência chega às gigantes do mercado, como estarão as pequenas e médias livrarias? Quando se acha que não se pode piorar, os livros mais vendidos, que ficam logo à frente nas primeiras prateleiras, não são os grandes clássicos — brasileiros ou da literatura universal — mas quase todos livros com um selo “Sucesso no TikTok”, “Inspirado no Filme da Netflix” ou livros de YouTubers.
Mas eu não estou aqui para julgar as livrarias. Sei que muitas vezes são esses livros os responsáveis por fechar as contas do mês. Isso, quando fecham. Afinal, o que tem que mudar, na verdade, é a cultura vigente. A cultura de ler pouco, e principalmente de não valorizar o que é nosso.
Fiquei pensando em uma das mais famosas declarações do Mestre Ariano Suassuna. Segundo ele, logo após a sua posse na Academia Brasileira de Letras, chegou um convite de mulher rica, da alta elite, para jantar em sua casa. Nisso, ela chega a o questionar: Ariano, você naturalmente já foi à Disney não é? Após ele dizer que não, a mulher se mostrou muito decepcionada. Em seu pensamento, chega a uma conclusão bastante humorada: Essa mulher classifica a humanidade entre pessoas que vão e as que não vão à Disney.
Agora imagine, que absurdo esse. Não ir para os Estados Unidos, conhecer o famoso parque de diversões do Mickey, tirar foto com Donald e se fantasiar de Pateta. Infelizmente, percebe-se um ideal muita das vezes caricato de que aqui se tem como tendência imitar a cultura norte-americana. Mas não a boa cultura, e sim a mais baixa cultura de massa.
Veja, a cultura norte-americana, que tem tantos artistas maravilhosos. Antes de ler qualquer livro booktok estrangeiro, leia os Grandes: Hemingway, Mark Twain, Ray Budbury, Herman Melville, Flanery O’Connor, Louisa May Alcott, Scott FitzGerald. Veja o cinema de Martin Scorsese, Clint Eastwood, Paul Thomas Anderson. Conheça as peças de O’Neil.
Mas principalmente, e antes de tudo, volte aos brasileiros. Muitos dos nossos grandes estão esquecidos. Alguns, preteridos pelas nossas grandes editoras porquê infelizmente não vendem. Precisamos visitar o Massangana de Joaquim Nabuco, o Sertão de Rosa e de Ariano Suassuna, a São Luís de Josué Montello, os subúrbios do Rio de Janeiro de Lima Barreto, Machado de Assis e Marques Rebelo. Precisamos ir à Lygia, Clarice, Rachel, Nélida e Carolina Nabuco. Redescobrir Gustavo Corção, José Geraldo.
Vieira. Precisamos urgentemente para esse processo de McDonização da cultura brasileira. Antes de ir à Disney, ir ao Brasil. *Eric Vinícius é professor da rede particular de ensino, e da nova geração de escritores e cronista em Parnaíba.